Domingo (06), o jornalista Sidney Rezende postou em sua rede social e em seu portal
SRZD.com, uma reflexão, que motivou nós do coletivo audiovisual Moinhos de Vento a seguir trabalhando a fim de produzir conteúdos audiovisuais para internet e cobrir o que a grande mídia não cobre por falta de tempo ou de interesse, e mais, através do Moinhos, nós podemos explorar linguagens audiovisuais alternativas dando voz ao que supostamente não teria audiência. Afinal, registrar e fazer jornalismo é preciso além de ser um dever, nesses tempos de sucessos efêmeros, notícias rasas e de sensacionalismo ao extremo.
Abaixo, segue a íntegra do texto publicado por Rezende, onde critica duramente a cobertura da grande mídia e exalta o empenho das mídias alternativas que não param de crescer, dando uma nova dinâmica ao jornalismo brasileiro. Enfim, obrigado, Sidney Rezende!
Jornalismo para quê?
Todos sabem o quanto sou entusiasmado com a mídia comunitária. E isso não é de hoje. Quem já assistiu alguma das minhas palestras entenderá melhor o que direi neste post.
A Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, é um bairro rico de jornais voltados para o comércio, condomínios e escolas. Lá convivem impressos de todos os tipos - jornais e revistas segmentados - com web e produtoras de programas audiovisuais que são reproduzidos em TVs abertas, estimulados por contratos bilaterais e canais UHF.
Durante a premiação da AIB - Associação de Imprensa da Barra - , em que o SRZD venceu como o melhor portal de notícias do ano, reencontrei amigos. Aproveito para agradecer ao presidente da Associação, Manuel Lopes, pela festa que ofereceu aos seus convidados.
Apesar da luta cotidiana em busca da sobrevivência profissional, o número de veículos de comunicação é maior hoje do que há um ano. Um grande contingente de jovens portando câmeras, gravadores e celulares ávidos por informação para seus leitores, espectadores, internautas. Muito estimulante.
Como eles se saíram na cobertura do evento?
Dei um tempo "técnico" e fui verificar a repercussão nas mídias sociais. Não me decepcionei com os meios de comunicação de pequeno porte. Encontrei o que esperava. E me satisfiz com isso.
Já com relação à cobertura dos chamados grandes veículos, um choque. Para ser sincero, eu tomei um susto.
Só para ambientar quem não estava, listarei alguns dos presentes naquela noite.
O prêmio de melhor ator foi concedido ao protagonista de "Os Dez Mandamentos", Guilherme Winter. Profissional que eu não conhecia, mas tive boa impressão. Discreto, low profile, comedido em suas entrevistas, esbanjou elegância. Vamos combinar que a novela da "Record" foi a novidade de audiência do ano na TV brasileira.
Prêmios especiais para as atrizes Cléo Pires, Adriana Esteves e Marina Ruy Barbosa.
A Globo foi homenageada pela passagem dos seus 50 anos de existência. O supervisor executivo de Responsabilidade Social, Rafael Marques, representou os acionistas e exibiu um vídeo com resumo do merchandising social da empresa. Uma iniciativa elogiável pelo caráter mobilizador das telenovelas.
Foram homenageados também o diretor da PC Vídeo, produtora tradicional do Rio de Janeiro, Paulo Costa; o presidente do CRECI-RJ - Conselho Regional de Corretores de Imóveis, Manoel da Silveira Maia; o diretor de Marketing da Ala Comunicação, Luiz Castilho; e a ABI, Associação Brasileira de Imprensa, representada pelo jornalista Arcírio Gouvêa.
Bastava a um repórter menos preguiçoso conversar com qualquer um deles, que, com certeza, obteria histórias incríveis, notícias fresquinhas e abordagens que os leitores iriam adorar. Mas isto não interessou aos "grandes".
Por que a decepção com a cobertura dos grandes veículos? Porque quase nada do que lembramos aqui neste post mereceu citação. O principal assunto unanimemente tratado na cobertura foi a presença de Solange Gomes, ex-modelo da "Banheira do Gugu", e Fani, ex-"BBB".
A noticia sobre Fani é que ela havia "repetido" o look: "um macacãozinho preto"; e que Solange estava embalada num "vestido colado e decote generoso". Hein?
Para que serve o jornalismo senão para informar algo que seja no mínimo relevante. Notícia, vai! Algo que interesse à sociedade, senão totalmente, mas uma parte dela.
Este tipo de cobertura rasteira incomoda até as próprias "clicadas". Mas que culpa elas têm? Nenhuma.
Já estou cansado de ouvir "a gente tem coisas interessantes para falar, mas os repórteres não têm interesse". Eu entendo. E não as culpo. Afinal, elas não são jornalistas, mas nós somos. Somos?
*artigo originalmente publicado no SRZD.com